sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Enxugue Suas Lágrimas e Deixe-me Ir.

Parecia que ela não dormia há dias. Seus olhos estavam inchados e seus cabelos estavam muito bagunçados. Meu cérebro parecia que iria entrar em curto, mas no momento em que ela abriu a boca eu tive a certeza que poderia enfrentá-la:

- Oi Miguel.
- Oi Julia... Como você está? – Eu sabia que aquela pergunta não fazia sentido devido à aparência dela. Mas não pude deixar de perguntar.
- Estou bem, obrigada por perguntar. – Ela nunca foi boa em mentir... – Você acha que nós podemos conversar por um instante?
- Não sei, minha aula começa daqui cinco minutos...
- Por favor, vai ser bom para nós dois. Você tem me evitado faz um bom tempo.

Ela estava certa. O medo daquele momento me possuiu por várias semanas até eu finalmente criar coragem e resolver levantar da cama.

-Ok... Podemos pelo menos ir a um lugar mais reservado?
-Tudo bem.

Enquanto caminhávamos sem destino, conhecidos que encontrávamos pelo caminho nos olhavam com curiosidade. Alguns até cochichavam entre si. Até que ponto será que eles sabiam do que tinha acontecido?
Quando chegamos a um parquinho decidimos ficar por ali mesmo. O lugar deveria ser o mais calmo da região. Ficava próximo a uma rua sem saída, rodeado por apartamentos, e (graças a Deus) estava muito cedo para ter crianças brincando nos seus brinquedos desgastados.
Nós nos sentamos na grama, como sempre fazíamos quando resolvíamos conversar longe dos outros. Mas dessa vez tudo estava errado, nunca a tinha visto chorando, sempre pensei que quando esse momento chegasse eu a iria consolar, mas não, meu coração estava possuído pelo ódio e eu sentia um certo prazer vendo- a daquele jeito. Por outro lado, eu tinha a certeza de que não conseguiria ser duro com ela. Não era da minha natureza ter atitudes premeditadas, então só me restava ouvir o que ela tinha para me falar.

- E então, o que você queria me falar Julia?
- Ainda não sei, espero que com o desenrolar da conversa eu descubra.
- Maravilha, você me fez sair da faculdade, andar até um parquinho pra ficar aqui olhando pra tua cara tentando descobrir o que você pensa?
- Não seja grosso!
- Ok, daqui pra frente tentarei ser mais delicado. Era isso que você tinha a me dizer?
- Óbvio que não! Você no fundo sabe por que está aqui. E eu também... – Ela pegou na minha mão e começou a acaricia- lá. Mas aquele jogo de sedução não funcionava mais comigo, e afastando a mão dela do meu corpo eu respondi:
-É, pode ser que sim. Então chega de papo furado e fale de uma vez o que você quer.

Naquele momento o Sol saiu de traz dos prédios iluminando todo o parquinho. Até que não era um lugar feio, havia diversas plantas naquele lugar. Desde pequenos arbustos até uma grande Paineira com suas folhas brancas! E dali eu ainda conseguia avistar a Lua minguante. Aquele lugar transmitia uma sensação de tranqüilidade, algo que a muito eu não sentia. Acho que deveria explorar a cidade mais vezes quando me sentisse perturbado.

-Você ta me ouvindo Miguel?
-Ahn? Desculpe...
-Poxa, isso é importante! Para nós dois!
-Ok, estou ouvindo...
- Então, eu queria conversar sobre o que aconteceu aquele dia... Estou confusa, nós ainda estamos namorando? Você fugiu e nunca mais deu as caras...
- Você queria que eu tivesse ficado lá pra que? Pra me humilhar ainda mais?! Será que o que você fez pra mim não foi suficiente pra tirar suas próprias conclusões? Aquele foi o pior dia da minha vida se isso lhe interessa.
- Eu entendo. Você tem toda a razão. Eu fui uma idiota, não deveria ter agido daquela forma. Mas procure entender, eu estava bêbada! Acredite em mim, aquela pessoa que você viu não existe! Meus amigos também não tiveram culpa, eles estavam tão loucos quanto eu.
-Ah, ta certo, então quem estava me falando àquelas coisas? Não culpo seus amigos, afinal quem deixou eles fazerem aquilo foi você! E onde você foi parar quando eu estava ali, agonizando a beira do mar? E por que dessa vez tem que ser diferente das outras? Aquela não foi a primeira vez que eu te vi “cozida”. Não me venha com essa estória que você não queria fazer aquilo.

As lágrimas já percorriam meu rosto antes de eu conseguir terminar o raciocínio. Ela também estava chorando, muito mais do que eu. Parecia que realmente se importava com o que estava acontecendo, estava se sentindo mal. Mas não foi aquilo que eu vi em seus olhos naquele dia quando tudo foi por água a baixo. E então ela falou:

-Esse é o nosso fim então?- Ela me abraçou com tanta força que quase fez meus olhos saltarem das orbitas. Nisso eu comecei a lembrar dos nossos momentos juntos. Aqueles dias tinham sido os melhores da minha vida. Eu conseguia lembrar com clareza a maior parte dos nossos passeios e encontros. Mas o ultimo com certeza nunca iria me deixar em paz.
-Receio que sim Julia... Não consigo sentir o seu amor e você fez questão de matar o meu naquele dia- Aquelas palavras saíram da minha boca feito navalhas, cortando meu interior e a atingindo em cheio no rosto.
-Por favor, não diz isso. Eu te amo muito, eu sei que o que fiz não tem concerto. Me perdoe por favor.- A cascata de lágrimas que percorria o seu rosto encharcava meu ombro. E como alguém que lança sua ultima carta, ela me beijou com todas as suas forças. Ela sabia que aquilo não iria funcionar. Quando ela finalmente me largou, eu pude dar a palavra final.
-Claro que eu te perdôo, eu amo você. Mas nós não podemos continuar juntos. Agora por favor, não torne as coisas mais difíceis para mim e para você. Agora o jeito é seguirmos em frente, quem sabe algum dia possamos tentar outra vez? Mas agora eu preciso de um tempo para colocar as coisas no lugar, afinal eu perdi um semestre inteiro... Agora por favor, enxugue as suas lágrimas e deixe-me ir.

Quando me afastei dos seus braços e caminhei em direção a saída do parquinho, a última coisa que ouvi foi ela caindo de joelhos na grama, chorando como uma garotinha. Como pude ser tão hipócrita? “Agora o jeito é seguirmos em frente”.
Naquele momento eu queria me jogar do viaduto e acabar de vez com aquele sofrimento que ardia em mim. Aonde eu acharia forças para continuar? O som do seu choro ecoava dentro de mim e as lágrimas saiam descontroladas de dentro dos meus olhos. Pensava que estava preparado para aquele momento, mas não! O “pra sempre” tinha chegado ao fim, e agora a última coisa que restava do nosso amor era a dor e um mar de lembranças, no qual eu já estava me afogando.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Destino

“Hoje eu finalmente recomeçarei minha vida” pensava enquanto trancava o portão da minha casa. O dia estava bonito; o céu estava azul sem nenhuma nuvem e os pássaros cantavam. Uma típica manhã de primavera que parecia estar tirando sarro de mim...
Não havia muitas pessoas no ponto de ônibus. Apenas uma garota de cabelos escuros e pele clara que eu não conhecia. Ficamos ali em silêncio esperando o ônibus. Mas ele não chegava nunca! Será que havia acontecido algo? As músicas do meu mp3 já tinham começado a se repetir quando senti um leve puxão:

- Com licença, mas você sabe que horas o ônibus chega?- Perguntou a garota. Não havia reparado como ela era baixa!
- Oi! Olha, eu acho que ele já deveria ter chegado. - Respondi, tentando parecer entusiasmado.
- Ai, acho que vou chegar atrasada no primeiro dia de aula!- Ela respondeu cabisbaixa.
- É... também acho que vou... – Na verdade eu não me importava com aquilo. – Qual é o seu nome?
- Sabrina! E o seu?
- Prazer Sabrina, meu nome é Miguel.

Logo em seguida, o ônibus chegou. Ao entrar me deparei com algo que se parecia com um formigueiro. A falta de ar com certeza iria ser um problema, por isso deixei a garota entrar primeiro para eu poder ter tempo de abrir minha mochila e tirar minha bombinha dali. Ao me ver com a bombinha na mão um homem logo me cedeu seu lugar, e como um bom cavalheiro me ofereci para levar a mala de Sabrina. Afinal de contas o nosso destino não era dos mais pertos, e eu também duvidava que ela conseguiria se sentar em algum lugar.
Não conversamos muito durante o trajeto, mas mesmo assim pude descobrir coisas interessantes sobre ela: Sua cor favorita era violeta, tal como a fita que estava presa em seu cabelo. Sua banda preferida era Aerosmith, mas sua canção preferida era One Last Breath da banda Creed. Mas o que me deixou mais surpreso foi descobrir que ela era minha caloura!
Quando chegamos à faculdade, havia várias barraquinhas espalhadas pelo campus com os nomes de diversos cursos. Percebi que Sabrina estava um pouco inquieta. Logo falei pra ela não se preocupar, veteranos não costumavam morder os calouros no primeiro dia de aula. E para confortá - la um pouco mais disse que caso ela quisesse eu poderia livrá-la do trote.

- NÃO! Eu quero participar do trote! Não quero ficar marcada como a “nanica que não participou do trote”!
- Hahaha, tudo bem então! Nos vemos no bar mais tarde!

Ela me deu um beijo na bochecha e foi em direção a barraca do nosso curso.
Enquanto eu me dirigia ao prédio onde eu teria a minha primeira aula em semanas, um pensamento me intrigava: Seria obra do destino o ônibus demorar tanto e acabar por me apresentar uma nova pessoa?
Mas não tive muito tempo para pensar no assunto, logo que cheguei a entrada do prédio eu a vi. A causa das minhas dores estava lá me esperando. Ergui a cabeça e fui em sua direção, não podia mais agüentar aquela angústia que me consumia por inteiro. O momento tinha finalmente chegado e a dor despertava novamente dentro de mim. A bombinha tremia na minha mão e meu coração parecia que iria sair pelo meu peito e voar direto para as mãos dela.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Nenhum Sonho Pode Curar um Coração Partido

Encontrava-me sozinho na entrada do parque, o dia estava nublado mas a chuva não ameaçava cair sobre minha cabeça. Do outro lado da rua eu tentava distinguir a imagem que se aproximava de mim. Ela vestia um vestido preto com flores vermelhas e usava um all star todo desbotado e seu cabelo era negro como as profundezas do oceano. Quando ela se aproximou pude descobrir a cor de seus olhos: Eram verdes como esmeraldas. Seu rosto tinha um traçado peculiar e suas bochechas eram rosadas. Fazia um belo contraste com sua pele branca como a neve.
Era ela.
Meu coração acelerou quando ficamos a menos de dois passos de distância um do outro. Eu podia sentir o calor da sua respiração subir pelo meu rosto. A excitação tomava conta de mim.

- Oi... - ela disse.
- Ola Julia...

Os segundos que se passaram foram os mais intensos dos últimos dias. Ela encostou os seus lábios nos meus com um amor tão intenso que eu não tive coragem de me desligar do seu corpo. Quando tinha terminado olhei em seus olhos. Dava pra ver a tristeza consumindo a sua alma.

- O que está fazendo? - Perguntei.
- O que você acha? Não esta claro ainda?
- Não pra mim...
- Eu tenho tentado te encontrar faz dias! Você não atende o celular, não responde minhas mensagens! Você não sabe como eu estou me sentindo!
- Do que raios você esta falando? Vai querer dar uma de vitima agora? Afinal de contas o que você quer de mim?
- Quero apenas que você volte pra mim. Minhas lágrimas já não são suficientes para expressar a dor que sinto. Eu te amo muito e...
- AMA PORCARIA NENHUMA! VOCÊ NÃO SENTE NADA!

Quando as primeiras lágrimas escorreram pelos nossos rostos, uma musica começou a tocar. Logo percebi o que realmente estava acontecendo...

“Don't go and leave me And please don't drive me blind
Don't go and leave me And please don't drive me blind”

O celular despertou exatamente às seis horas da manhã. Meu coração batia muito rápido. O mesmo sonho me atormentava todas as noites, e mesmo assim ainda não tinha desenvolvido nenhum tipo proteção contra ele. Não queria levantar da cama, queria ficar ali até morrer, mas tinha feito uma promessa a mim mesmo. Levantei e logo fui tomar banho, me arrumei e fui tomar café. Enfrentar o dia que seria o mais longo da minha vida não seria nada fácil.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Razões

Já era tarde da noite, eu não conseguia dormir por causa de meus temores que a cada minuto se intensificavam mais e, é claro, também não era fácil conter as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Da janela do meu quarto, olhava para a rua. Não havia movimento algum, apenas um gato fazia seu passeio noturno. “Deve estar em busca de outra gata” eu pensei.
Já se passava das duas horas da madrugada quando meu celular vibrou ao lado da cabeceira da cama. Era uma mensagem, a qual eu não esperava receber. Longe dali alguém estava com o mesmo problema que eu. De certa forma isso era consolador...
Como eu estava pensando, a mensagem era dela. Estava sentindo um certo receio de saber do conteúdo, afinal eu já havia dado um basta em nossa relação. Ou será que não? Enfim, não poderia ser besteira, afinal de contas quem iria querer brigar no meio da madrugada?

“Amor, eu sei que te magoei, vc ñ sabe o quanto sofro só de lembrar do estado em que vc se foi =( eu não quero que vc faça nenhuma besteira, por favor, eu te amo mto, cometi vários erros mais a única coisa q te peço é q vc me de uma nova chance, não quero te perder...
Com amor, Julia”


A raiva acordou dentro de mim. Que ódio dela!Depois de tudo que ela havia me dito, ainda lhe sobrava falsidade!
Ela, que havia me destruído por completo, pedia para dar-lhe outra chance? O que ela esperava de mim? Que mandasse flores? Que voltasse aos seus pés feito um cãozinho sem dono? Havia lhe dado tudo. Meu amor, minha vida, minha alma, minha palavra e meu respeito! Não entendo o porquê de ela me matar...
Não vou responder esta porcaria! Não sou tão masoquista assim... Prefiro a solidão à maldita companhia viciosa e doentia dela.
Abri a gaveta e dela tirei meu mp3 e um masso de Marlboro. Faziam vários meses que eu não fumava, mais um sacrifício feito para ela...
Ouvindo Placebo, eu tentava não me submeter à depressão, aquilo tudo era muita coisa para a minha cabeça. Tentava lembrar como eu vivia sem ela, logo cheguei a conclusão que antes dela eu só via a vida passar. Como um filme em preto e branco.
Logo o dia raiou e eu deveria ir para a faculdade, a manhã estava linda, parecia tirar sarro de mim... Aquilo não fazia sentido. Não consegui ir para aquele lugar onde as pessoas não se importam com seus problemas; logo voltei para a cama.
Passaram-se semanas, e as únicas coisas que eu fazia era ficar em casa me deprimindo ao som de “Blind”. Não atendia mais os telefonemas, mamãe já queria que eu consultasse um psicólogo. Por que eu fui falar que iria me jogar da passarela? Não tinha razões para continuar a lutar, a chama da esperança havia finalmente se apagado em meu coração, o rio da felicidade tinha secado e então eu morreria de sede.